A terapia assistida por animais (TAA) tem ganhado cada vez
mais atenção nos últimos anos, principalmente por seus benefícios comprovados
na promoção da saúde mental e emocional. Entre os diversos animais utilizados
para este fim, os gatos têm se destacado por sua capacidade de proporcionar
conforto, afeto e companhia.
Este artigo explora como a terapia assistida por gatos pode
melhorar a saúde mental de idosos, destacando os benefícios psicológicos,
emocionais, físicos e cognitivos, além de exemplos práticos tanto no Brasil
quanto no exterior.
O Que é Terapia Assistida por Gatos?
A terapia assistida por gatos envolve a interação entre
idosos e gatos treinados para fins terapêuticos. Os gatos podem visitar lares
de idosos, hospitais ou mesmo residir com os pacientes, oferecendo-lhes
companhia e estímulos positivos. Diferente de animais de serviço, os gatos de
terapia não realizam tarefas específicas, mas proporcionam conforto e bem-estar
emocional.
Histórico e Origem da Terapia Assistida por Animais
A ideia de usar animais para terapia não é nova. A prática
remonta à Grécia Antiga, onde os cavalos eram usados para melhorar a disposição
dos doentes. Na década de 1960, a psiquiatra infantil Boris Levinson começou a
utilizar seu cachorro nas sessões de terapia, observando melhorias
significativas em seus pacientes. Desde então, a TAA se expandiu para incluir
uma variedade de animais, incluindo cães, cavalos e, mais recentemente, gatos.
Comparação com Outras Formas de Terapia Assistida por
Animais
Enquanto cães e cavalos são frequentemente usados em TAA
devido à sua capacidade de realizar tarefas específicas ou proporcionar
exercício físico, os gatos oferecem um tipo de terapia mais focada no afeto e
no relaxamento. A presença de um gato pode ser menos intimidadora para alguns
idosos, especialmente aqueles que podem ter medo de cães ou dificuldades de
mobilidade que tornam a equoterapia inviável.
Benefícios Psicológicos
Redução da Ansiedade e do Estresse
Interagir com gatos pode significativamente reduzir os
níveis de ansiedade e estresse em idosos. Estudos demonstram que acariciar um
gato pode reduzir os níveis de cortisol, o hormônio do estresse, e aumentar a
produção de serotonina, uma substância química que melhora o humor.
Por exemplo, um estudo realizado na Universidade de Missouri
descobriu que a interação regular com gatos ajudou a diminuir a ansiedade em
residentes de um lar de idosos.
No Brasil, o Instituto de Psiquiatria do Hospital das
Clínicas da Faculdade de Medicina da USP realizou um estudo que demonstrou
reduções significativas nos níveis de estresse entre os idosos que participaram
de sessões de terapia assistida por gatos.
Combate à Depressão
A companhia de gatos pode atuar como um potente
antidepressivo para muitos idosos. A responsabilidade de cuidar de um gato,
combinada com o carinho e a companhia proporcionados pelo animal, pode ajudar a
combater sentimentos de solidão e isolamento, que são comuns entre os idosos.
Um exemplo disso é o programa "Pet Partners" nos
Estados Unidos, que relatou que idosos que passaram tempo com gatos de terapia
apresentaram uma diminuição significativa nos sintomas de depressão. No Brasil,
o Lar dos Velhinhos de Campinas implementou um programa de terapia assistida
por gatos e observou uma melhoria significativa no humor e na disposição dos
residentes.
Aumento da Autoestima e Senso de Propósito
Cuidar de um gato pode proporcionar aos idosos um senso
renovado de propósito e autoestima. A responsabilidade de alimentar, limpar e
brincar com o animal dá aos idosos uma rotina e uma razão para se levantar
todos os dias, além de aumentar sua sensação de utilidade.
Em um estudo conduzido pela Universidade de Lancaster no
Reino Unido, idosos relataram sentir-se mais valorizados e úteis após começarem
a cuidar de gatos de terapia. De maneira similar, a Associação Brasileira de
Terapias Assistidas por Animais (ABRATAA) também notou que idosos envolvidos em
programas de terapia com gatos demonstraram um aumento significativo na
autoestima.
Benefícios Emocionais
Companheirismo e Redução da Solidão
A solidão é um problema sério entre idosos, especialmente
aqueles que vivem em instituições ou longe de suas famílias. Os gatos podem
proporcionar uma fonte constante de companhia, ajudando a mitigar esses
sentimentos de isolamento.
No Japão, um estudo realizado pelo Departamento de Geriatria
da Universidade de Tóquio mostrou que a presença de gatos de terapia em lares
de idosos reduziu significativamente a sensação de solidão entre os residentes.
No Brasil, a Associação Brasileira de Intervenções Assistidas por Animais
(ABRAIA) reportou resultados semelhantes, com idosos se sentindo menos
solitários e mais acompanhados graças à interação com gatos de terapia.
Estímulo ao Afeto e ao Amor Incondicional
Os gatos são conhecidos por oferecerem afeto de maneira
silenciosa e constante. Para muitos idosos, esse tipo de interação pode ser
profundamente reconfortante e fornecer um sentido de amor incondicional.
Nos Estados Unidos, o programa "Cats on Mats"
introduziu gatos de terapia em sessões de ioga para idosos, combinando
exercícios leves com a presença calmante dos gatos. Os participantes relataram
sentir-se mais amados e apreciados após essas sessões.
De forma semelhante, o Projeto Pêlo Próximo no Rio de
Janeiro, que leva gatos de terapia a diversas instituições, observou que os
idosos frequentemente desenvolvem fortes laços emocionais com os animais,
melhorando significativamente seu bem-estar emocional.
Benefícios Físicos e Cognitivos
Melhora na Atividade Física Leve
Embora os gatos não exijam exercícios vigorosos como os
cães, cuidar de um gato ainda pode incentivar os idosos a se manterem
fisicamente ativos. Atividades como alimentar, escovar e brincar com o gato
podem ajudar a manter a mobilidade e a coordenação dos idosos.
Por exemplo, um estudo realizado na Universidade de
Queensland, na Austrália, mostrou que idosos que cuidavam de gatos apresentavam
níveis mais altos de atividade física leve em comparação com aqueles que não
interagiam com animais.
No Brasil, o Hospital Geriátrico e de Convalescentes D.
Pedro II observou que a presença de gatos de terapia incentivou os pacientes a
se movimentarem mais, seja para acariciar o gato ou participar das sessões de
brincadeiras.
Estímulo Cognitivo
A interação com gatos pode também proporcionar estímulo
cognitivo, ajudando a manter a mente dos idosos ativa. Lembrar-se de alimentar
o gato, brincar e cuidar de suas necessidades envolve planejamento e memória,
funções cruciais que podem se deteriorar com a idade.
Um estudo publicado no Journal of Aging Research encontrou que idosos que participaram de programas de terapia assistida por gatos mostraram melhorias em testes de função cognitiva. No Brasil, o Instituto de Geriatria e Gerontologia da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS) reportou que idosos envolvidos em programas de terapia com gatos mostraram melhorias na memória e na atenção.
Requisitos para a Terapia Assistida por Gatos
Para que a terapia assistida por gatos seja eficaz, é
importante selecionar gatos com temperamentos adequados e proporcionar
treinamento básico. Gatos de terapia devem ser calmos, amigáveis e confortáveis
em ambientes com várias pessoas. É essencial que os gatos sejam saudáveis e
livres de doenças que possam ser transmitidas para os humanos.
Organizações como a Pet Partners nos Estados Unidos e a
ABRATAA no Brasil oferecem diretrizes e certificações para animais de terapia,
incluindo gatos. Esses programas garantem que os gatos estejam bem-preparados
para interagir com idosos de maneira segura e eficaz.
Como Iniciar um Programa de Terapia Assistida por Gatos
em Lares de Idosos
Iniciar um programa de terapia assistida por gatos em um lar
de idosos envolve várias etapas:
- Avaliação
das Necessidades: Avaliar a saúde mental e física dos residentes para
determinar como a terapia com gatos pode beneficiar cada um deles.
- Seleção
dos Gatos: Escolher gatos com o temperamento adequado para a terapia e
garantir que eles estejam bem socializados.
- Treinamento
e Certificação: Seguir as diretrizes de organizações especializadas
para treinar e certificar os gatos para terapia.
- Parcerias
com Instituições: Colaborar com instituições locais de cuidados a
idosos para implementar o programa.
- Monitoramento
e Avaliação: Monitorar regularmente a saúde e o bem-estar dos gatos e
dos idosos, ajustando o programa conforme necessário.
Exemplos bem-sucedidos incluem o programa de terapia
assistida por gatos do Lar das Moças Cegas em Santos, que colaborou com
veterinários e especialistas em TAA para implementar seu programa. Nos Estados
Unidos, a organização "Pets for the Elderly" facilita a adoção de
gatos por idosos, oferecendo suporte contínuo para garantir o sucesso dessas
adoções.
Estudos de Caso e Pesquisas Científicas
Numerosos estudos científicos destacam os benefícios da terapia assistida por gatos para a saúde mental dos idosos. Um estudo realizado pela Universidade de Miami descobriu que idosos que interagiam regularmente com gatos apresentavam níveis mais baixos de depressão e ansiedade. Outro estudo, publicado no Journal of Geriatric Psychiatry, mostrou que a terapia com gatos melhorava significativamente a qualidade de vida dos idosos em lares de longa permanência.
No Brasil, a Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG)
realizou uma pesquisa que revelou melhorias na saúde mental e no bem-estar
geral de idosos que participaram de sessões regulares de terapia assistida por
gatos. Esses estudos fornecem uma base sólida para a implementação e expansão
de programas de terapia assistida por gatos em diferentes contextos.
Estudos de Caso de Instituições que Implementaram a
Terapia com Sucesso
Estados Unidos:
- Casey
House, Maryland: Esta instituição de cuidados paliativos utiliza gatos
de terapia para ajudar os pacientes a lidar com o estresse e a ansiedade
associados ao tratamento de doenças graves. Os gatos proporcionam conforto
e uma sensação de normalidade, contribuindo para uma melhor qualidade de
vida.
- PAWS
Chicago: Esta organização não só promove a adoção de gatos por idosos,
mas também oferece programas de visitas de gatos de terapia em lares de
idosos, com resultados positivos em termos de bem-estar emocional e social
dos residentes.
Brasil:
- Lar
dos Velhinhos de Campinas, São Paulo: Este lar de idosos implementou
um programa de terapia assistida por gatos com a ajuda de veterinários e
especialistas em TAA. Os residentes relataram uma melhora significativa no
humor e na disposição após a introdução dos gatos.
- Projeto
Pêlo Próximo, Rio de Janeiro: Esta iniciativa leva gatos de terapia a
hospitais e lares de idosos, proporcionando conforto e companhia aos
pacientes. O projeto tem sido bem recebido, com muitos idosos relatando
uma sensação de alegria e conexão emocional com os gatos.
Europa:
- Nightingale
Hammerson, Reino Unido: Esta instituição de cuidados para idosos em
Londres utiliza gatos de terapia para melhorar a qualidade de vida dos
residentes. Os gatos ajudam a reduzir a solidão e proporcionam um sentido
de propósito e alegria para os idosos.
Japão:
- Silver
Nursing Home, Tóquio: Este lar de idosos introduziu gatos de terapia
para ajudar a combater a solidão e o isolamento entre os residentes. Os
gatos são uma presença constante e reconfortante, proporcionando interação
e estimulação emocional.
Desafios e Considerações
Potenciais Desafios na Implementação da Terapia Assistida
por Gatos
Apesar dos muitos benefícios, a terapia assistida por gatos
também apresenta alguns desafios. Alergias aos gatos, medo de animais e
questões de higiene são considerações importantes a serem abordadas. É
essencial garantir que todos os residentes e funcionários estejam confortáveis
com a presença dos gatos e que medidas adequadas de higiene sejam mantidas.
Além disso, é importante considerar o bem-estar dos gatos.
Eles devem ser tratados com respeito e cuidado, e qualquer sinal de estresse ou
desconforto deve ser abordado imediatamente.
Considerações Éticas e Bem-Estar Animal
A terapia assistida por gatos deve sempre priorizar o
bem-estar dos animais. Os gatos devem ter períodos de descanso e não devem ser
forçados a interagir se estiverem desconfortáveis. A seleção de gatos deve
levar em conta seu temperamento e capacidade de lidar com ambientes variados e
pessoas diferentes.
Organizações como a International Association of
Human-Animal Interaction Organizations (IAHAIO) fornecem diretrizes para
garantir que os programas de TAA sejam conduzidos de maneira ética e segura
tanto para os animais quanto para os humanos envolvidos.
Conclusão
A terapia assistida por gatos oferece uma abordagem única e
eficaz para melhorar a saúde mental dos idosos. Com benefícios que abrangem o
bem-estar psicológico, emocional, físico e cognitivo, essa forma de terapia tem
o potencial de transformar a vida de muitos idosos.
Exemplos de sucesso no Brasil e no exterior mostram que a
terapia assistida por gatos é uma ferramenta valiosa para promover a saúde
mental e o bem-estar dos idosos. Ao continuar a expandir e apoiar programas de
terapia assistida por gatos, podemos contribuir para uma vida mais saudável e
feliz para a população idosa.